[Maria do Rosário Pedreira]

No mundo inteiro, como dizia o nosso querido Padre Vieira, os peixes grandes comeram os peixes pequenos. Falo, embora não pareça, de edição. Grandes casas editoriais compraram editoras interessantes mais pequenas e somaram-nas a outras, construindo verdadeiros impérios. Mas não só: às vezes a compra partiu de indústrias que nada tinham que ver com os livros – como em França, por exemplo, onde uma empresa originalmente ligada às águas, a Vivendi, se tornou proprietária de muitas editoras, entre as quais a Belfond, as Presses de la Renaissance, a Plon, a Larousse e a Nathan. Diz-se que, quando assim é, o que os novos proprietários desejam é engordar o porco para o vender mais à frente... O problema é que, para poderem recuperar o investimento, sacrificam muitos autores que não vendem assim tão bem e os substituem por sucessos importados, que vendem imenso no ano de lançamento mas uns anos depois já ninguém sabe o que são (quem se recordará daqui por cinco anos de Ronda Byrne e O Segredo?). Só que, para vender o porco gordo, não importa apenas a conta bancária, mas também o relevo dos autores que constam do catálogo – e, com esta dinâmica, o catálogo esvazia-se em três tempos. Fará então sentido deixar de publicar autores que vendem lentamente, mas pingam sempre, e substituí-los por sucessos-relâmpago, descaracterizando as chancelas e tornando os catálogos um imenso vazio? Francamente, acho que não.