Imagem meramente ilustrativa
Imagem meramente ilustrativa

[Chagas Botelho] 

Na confluência da Praça Pedro II com a Rua David Caldas, no centro de Teresina, há uma janela enfeitada de flores. Não são postiças como são as inodoras de plástico. E, sim, tão naturais como são as dos belos jardins. Aquelas que exalam perfume, mesmo à distância. Pela pressa, nenhum transeunte as vê, mas elas pairam sobre mim.

Ao admirá-las penduradas, suspensas no mini Éden-predial, tive inveja de quem as cultiva e de quem as rega toda manhã, com tamanho esmero. Ainda mais em espaço exíguo e plantadas em terra ardente de calor.

A imagem que se tem de uma janela florida, nos enche de paz interior. Dá-nos, de certo modo, esperança no mundo. E o mundo fica tão bem com janelas floridas. Daí, portanto, a minha curiosidade: “quem cuida daquelas flores urbanas e suspendidas, homem ou mulher?”. Vai saber o gênero de tamanha sensibilidade. 

Só sei que quem fertiliza flores campais em sacadas de prédios, ajuda a ornamentar uma cidade sempre em falta com a natureza. Liberta vidas amarfanhadas. Renova ares poluentes.

Ao olhá-las no alto, supremas, escarlates, tive vontade de subir e bater na porta do florista, do cultivador desconhecido e lhe dizer: “olha aqui meu amigo ou minha amiga, parabéns pelas filhas que você cria na sua janela”. Ainda acrescentar loas e mais loas pelo seu gesto incomum e tão sutilmente lindo.

Mas preferi permanecer fincado ao chão feito raiz envelhecida. Porém, quem nos mostra ser capaz de cultivar flores singelas e em lugares inusitados, merece sim, ter vida longa.