Diz Baudelaire que a natureza faz o homem através de vivos pilares das árvores e é lá que ouvimos aquelas vozes da unidade, os rumores que cantam os perfumes do nosso destino, através de nossos símbolos, dos nossos sentidos, das nossas estradas que têm a mesma extensão da  expansão do universo. Baudelaire é, aqui, o poeta da grandeza, da mais vasta escuridão e larga claridade.

Correspondências

 

A Natureza é um templo onde vivos pilares

Podem deixar ouvir confusas vozes: e estas

Fazem o homem passar através de florestas

De símbolos que o vêem com olhos familhares.

Como os ecos além confundem seus rumores

Na mais profunda e mais tenebrosa unidade,

Tão vasta como a noite e como a claridade,

Harmonizam-se os sons, os perfumes e as cores.

Perfumes frescos há como carnes de criança

Ou oboés de doçura ou verdejantes ermos

E outros ricos, triunfais e podres na fragrância

Que possuem a expansão do universo sem termos

Como o sândalo, o almíscar, o benjoim e o incenso

Que cantam dos sentidos o transporte imenso.

BAUDELAIRE, Charles. As Flores do Mal. São Paulo: Círculo do Livro, 1995. Tradução, posfácios e notas de Jamil Almansur Haddad.