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[Rogel Samuel]



Assis Brasil foi um dos primeiros a reconhecer a qualidade da invenção da linguagem de Guimarães Rosa. Li com prazer sua entrevista para Francigelda Ribeiro, em Entre-textos. É curioso também saber que ele frequentou em 1956 o "Restaurante dos Estudantes, no Calabouço, perto do Aeroporto Santos Dumont", onde eu almoçava, a partir de 1961. Aliás fui professor ali, num curso para estudantes do Calabouço, naquela época.

Eu já tinha lido os artigos de Assis Brasil no Suplemento Dominical do Jornal do Brasil. Quando estava pesquisando para minha tese de doutorado, em 1983, frequentei diariamente a biblioteca da OLAC, ou Oficina Literária Afrânio Coutinho. E lá havia umas pastas com tudo o que se tinha publicado sobre Guimarães Rosa, até então.

Afrânio, que era amigo de Rosa, guardava tudo, todos os recortes. Nunca se viu um pesquisador como aquele.

Muitos criticavam Rosa e seu estilo brabo. Chegaram a dizer que ele, primeiro escrevia direito, depois complicava.

Eu conversei com Rosa, na Academia. Mas isso já outro assunto.


Assis Brasil também escreveu um precioso ensaio, que li: 
 

BRASIL, Assis. Guimarães Rosa. Ensaio. Rio de Janeiro, Simões, 1969. 148p.

Sobre Assis Brasil também escrevi:

Nemo, o peixinho obra-prima 

 Rogel Samuel 

 

 Este texto de Assis Brasil é uma obra-prima para todas as idades. A trama, aparentemente simples, vai-se tornando mais densa e o leitor arrebatado para saber o que vai acontecer. Até mesmo o lado religioso, as passagens que falam de Deus etc estão na medida certa e metafisicamente compensadas por um entrosamento perfeito: eu não vou contar, para que o leitor mantenha o suspense. Não é uma simples estória para criança, como o título pode sugerir. Mas uma narrativa bem construída, bem dosada, e podemos dizer que é um dos melhores romances da literatura brasileira de todos os tempos. É um romance? Sim, porque apreende um mundo (na realidade dois...). O comandante Nemo e sua esposa Débora estão mais reais, mais verossímeis do que Dil ou Zé Déo o que é uma façanha extraordinária na arte de narrar. Assis Brasil alcançou as culminâncias de sua arte, e seu “Nemo, o peixinho filosófico” (Teresina, Nova Aliança, 2009) pode comparar-se a “O velho e o mar”, de Hemingway. É ler para crer.