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AS ESTRELAS CADENTES

Novo romance de Rogel Samuel

 CAPÍTULO 1

 

No tao lemos que:

 

Conservando a Grande Imagem
O mundo passa
Passa sem danos
Com tranqüilidade, serenidade e supremacia
A música e as iguarias
Param o viajante
As palavras que nascem do Caminho
São insossas, carecem de sabor
Olhar não é suficiente para vê-lo
Escutar não é suficiente para ouvi-lo
Usar não é suficiente para esgotá-lo

 

Acordo no meio da noite, abro a janela e vejo que a noite está coberta de estrelas.

Calor sufocante.

Penso em tomar um banho frio, mas fico algum tempo olhando o céu que se descobre aos meus olhos, ao longo dessas montanhas azuis onde eu agora vivo, longe de tudo, na paz desses meus recentes anos.

Moro só, longe de todos, como afirmei.

Minha única companhia é o garoto Carlos, que aparece de bicicleta, trazendo comida, limpa a casa, dá um dedo de prosa, sorri como todos os adolescentes, e conta algumas novidades.

Meu amigo advogado se encarrega de remunerar a família de Carlos para que faça essa visita diária, ou quase diária.

 

CAPÍTULO 2

Aqui eletricidade, celulares, música.

Há oposição de meus amigos ao meu modo de

vida, mas solidão? - não me lembro desse sentimento

há muito tempo.

Uma coisa me está intrigando: As estrelas parecem estar cada vez mais perto, mais baixas, como se estivessem “caindo”.

Talvez eu precise de um novo exame de olhos.

Isso me daria trabalho, teria de marcar uma consulta, ir à cidade etc.

Não quero fazer mais isso.

Não, não preciso não.

Mas para mim, as estrelas estão “caindo”, caindo do céu, desabando em bando, vindo abaixo de uma só vez.

Sim.

Talvez eu esteja louco.

Ninguém reclama, ninguém vê isso, só eu.

Não tenho TV, que aqui não pega, minha Internet é fraca, mas ninguém diz nada.

Só eu vejo esse fenômeno.

Eu esperava que alguém dissesse algo, mas ninguém disse nada.

Nada.