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CAPÍTULO 5

 

Mas no meio da noite acordo com meu quarto cheio de “nagas”.

Em multidão eles se prosternavam em direção a uma pequena estátua de Guru Rinpochê que estava em cima da cômoda.

Em estava com sono. Volto a dormir na minha rede.

Aquilo não me perturbou.

Era um tipo de sonho que sempre tive.

Certa vez sonhei que um “mahakala” se desprendia da moldura de seu quadro e pairava no ar.

Eu não tenho mais esse quadro.

Os “mahakala” são entidades protetoras.

A noite continua a mesma.

A noite sobre a noite. Como nos versos de Murilo Mendes:

Esta mulher sem fim e a noite sobre a noite
E esta fome de ti, meu Deus talvez de mim.
Quem sabe eu já morri, meu esqueleto eterno
Em pé nos séculos e nas ondas me reveste.



CAPÍTULO 6

 

Mas depois aconteceu um fato que me abalou profundamente: quando abri a varanda, pela manhã, encontrei uma onça saindo de lá.

Passei a ver perigo por toda parte.

Tive de comprar um cachorro e dormir com ele ao meu lado,

Não, não dá pra conviver com onça ao redor da casa. Estava chovendo e ela resolveu dormir na minha varanda.

Sim, me apavorou. Passei a andar armado, e com o cachorro preso na coleira.

Não, não dá para ficar tranquilo sabendo que uma onça está rondando a casa.

Eu estava mesmo pensando em contratar o caçador para matá-la.

Mas sou contra isso. Não admito a matança de animais. E talvez por causa disso mesmo aquela onça não tivera medo de dormir na minha varanda, de onde ela pode me ver dormindo, ressonando na rede, separado apenas por uma fina tela de mosquito.

Não, aquilo me abalou sinceramente.

Com uma onça não.

Comprei um cachorro e uma espingarda. Dormia em alerta. 

Era o caos.