[WASHINGTON RAMOS]

                           

     Vítima de um assalto há poucos dias e de tantas notícias  de violência, inclusive sobre a caçada ao assassino em série em Goiás, confesso que ando pensando em comprar uma arma de fogo, mais exatamente uma pistola ou um revólver. É tão grande o número de notícias sobre assaltos e crimes, que é impossível, delas, escapar. Como consequência, vem este desejo que a população tem de se armar. Eu, é claro, faço parte da população.

     Nunca tive arma de fogo. Atirei uma vez apenas na vida. Já faz aproximadamente uns cinquenta anos que dei esse tiro. O Bacia ( parece que o nome dele era Darci ) apareceu em nossa rua com um revólver, e nós, uma turma de adolescentes, fomos com ele ao Trânsito ( hoje rua Espírito Santo ), lugar por onde passava pouca gente na época. Lá eu fui um dos que empunharam aquela arma e atiraram.

     Depois disso, já casado e morando na Alameda Parnaíba, meu sogro me deu um revólver de calibre 38, mas nunca o usei e emprestei a um amigo, que o perdeu.

     Agora vem essa vontade ilógica de possuir uma arma de fogo. Por que ter uma? Será que é porque à noite, antes de me recolher para dormir, acho minha casa meio insegura? Ou será porque estou pensando em morar no interior, onde também está havendo tantos assaltos? Ou será a influência de tantas notícias de violência? Talvez sejam as três coisas.

     Em contraposição a essa vontade, lembro-me do papa João Paulo II, que dizia que a oração é a arma mais forte que existe. Ele próprio era um homem que orava muito. Passava horas rezando e em total sintonia com bons pensamentos e desejos edificantes, e isso muito antes de ocupar o trono de São Pedro. Tem razão o falecido pontífice. Ademais, a oração não custa dinheiro nem precisa de manutenção. Ela mesma é a manutenção. Não corre o risco de ser furtada nem roubada, não precisa de porte autorizado nem de balas. Pode ser usada em qualquer lugar e a qualquer hora. Sua entoação pode ser em voz alta, ou um leve balbuciar, ou apenas mentalmente. Seu resultado pode ser imediato ou a longo prazo, exercitando nossa paciência e fé. Ao contrário de uma arma de fogo, a prece nos leva à reflexão, à paz interior, e não ao rompante. Este é típico de quem anda armado. Empunhando uma pistola, o sujeito é um machão destemido e abusado. Sem ela e diante do perigo, é capaz de rebolar igual a uma bicha louca.

     Um grande inconveniente no uso de uma arma é que um bandido, que não tem nada a perder, sabendo que uma pessoa de bem está armada, provoca-a e a insulta com a finalidade de que esta puxe a arma para que ele, o bandido, atire primeiro e a mate. Depois, num possível julgamento, pode alegar tranquilamente que agiu em legítima defesa.

     Portanto o melhor mesmo é esquecer a influência da mídia e continuar evitando notícias sobre violência, por mais insistentes e redundantes que elas sejam e estejam em todos os lugares. Acreditar mais no poder da oração e dos bons e edificantes pensamentos. Esse é o melhor caminho.