SESSÃO  NOSTALGIA:

 

Antes que 2015 acabe

 

 

                                                      

                            Cunha e Silva Filho

 

 

          Um ano  transcorrido para quem passou à velhice tem um valor  intenso, inestimável. Precisa ser bem  vivido em toda a plenitude do dia-a-dia, mas sem sobressaltos, sem afobamentos,  sem grande  planos.Deve ter a medida certa,   o equilíbrio, a harmonia dos que, bem ou mal,  aprenderam muita coisa da vida.

            O tempo psicológico de quem atingiu  essa fase da  existência é bem mais longo do que o presente frenético da juventude, da mocidade, sem se falar da infância, que é cercada de mil vidas,  de mil mágicas, invenções,  brincadeiras,  como se a vida  fosse uma eterna continuidade.

             No Brasil e  no mundo,  fazendo o balanço do que se viu, se viveu e do que se teve notícias, ninguém,  em plena consciência de suas  faculdades  mentais, há de afirmar que foi um ano bom,  alvissareiro. Em nosso país, dois exemplos nos marcaram  e nos  entristeceram:  o desastre da  política nacional e a tragédia  do Rio Doce, em Mariana, Minas Gerais.  

       No mundo,  a tragédia das vítimas inocentes  numa  casa de espetáculo parisiense,  barbarizada pelo nefando  Estado Islâmico e a situação  desumana por que têm passado os refugiados, sobretudo da Síria corridos  pelas guerra civil,  pela destruição de seus  bens, pela perda de seus empregos, pela derrocada de tantos lares e pela  perda de crianças  atravessando, em barcos infláveis,   por mar em direção sobretudo à Europa. Enquanto  os refugiados  saem às pressas de sua  própria  pária,  continua a infame guerra civil  num país  arrasado. Tudo por causa  sobretudo  da continuidade de um regime  ditatorial  que  provocou milhares de mortes desnecessárias. Desnecessárias, sim,   se os adversários  de Bashar Al-Assad pudessem  ter chegado a um acordo na disputa pelo poder.Nem o Conselho de Segurança da ONU  deu jeito na conflagração de sangue e de  matanças   covardes.

          Até parece que as grandes potências não  desejam   pôr termo a essa guerra civil interminável, insolúvel.  

         Vamos  ver até aonde  vai  esse conflito   em parte fratricida  entre rebeldes e o partido  do ditador Bashar Al-Assad, de mistura com outro personagem que também  entrou    em cena, o Estado Islâmico formado de terroristas  impiedosos  e  assassinos frios, anárquicos  e inimigos declarados dos valores  do Ocidente. A Síria virou um colcha de retalhos,  onde cada grupo adversário deseja  se apossar de um  região, de cidades, como se fossem  invasores    da Antiguidade Clássica,(século VIII a. C. até o século V d.C.), sobretudo do ponto de vista da civilização romana, por eles invadida, entre outros, os hunos,  francos, burgúndios, suevos,  vândalos,   visigodos, i.e.,   os bárbaros da pós-modernidade. Bárbaros para os romanos eram todos os povos que se situavam fora da sua civilização.

        Estado  Islâmico - grupo terrorista que  surgiu, em solo sírio,  para ainda mais   complicar a já  arrasada   estrutura  do Estado da Síria que,  nas condições atuais,  não é mais aquilo que se pode  chamar de  país, de nação,  em razão  da carnificina,  dos bombardeios,  das explosões, da convulsão  social,  dos destroços  em que  se  transformou  aquele país, em razão igualmente  da fuga  obrigatória dos seus  cidadãos que deixaram   as suas raízes, a sua família, os seus pais, a sua terra natal atravessando  as fronteiras  próximas em busca de paz  e de uma vida   sem opressão nem  medo. 
  O atrevimento  desse grupo terrorista é tão grande que se auto-intitula “Estado,”  tomando o termo  da Ciência Política para  definir  suas iniquidades,   matanças e degolas.  Não passa  de um bando formado até de  indivíduos de países ocidentais que  são para ele atraídos (brainwashing) com alguma promessa de livrar o mundo civilizado de todas as mazelas morais,  espirituais, consumistas, se esquecendo, contudo, de que  usam armas  fabricadas  também no Ocidente e são ainda acusados de receberem  ajuda financeira e bélica de potências  ocidentais (que mundo torpe?!) 

       De tanto a Humanidade  conviver com  guerras e derramamento  de sangue, os organismos  internacionais, que deveriam  priorizar  esses conflitos,   dão antes mostras de que bastam alguns  bombardeios  em determinadas  partes do território  sírio para que  deem satisfação ao mundo  de que estão   solucionando  alguma  coisa. Qual nada!

      A guerra civil prossegue inexorável na Síria. Os refugiados  continuam  sua saga  de humilhações   pedindo  abrigo a países da  Europa, sem  muitas vezes,  serem  atendidos. Aquelas imagens de levas de  refugiados  da Síria e de países africanos nos fazem lembrar os  trágicos  anos da Segunda Guerra Mundial.  Refugiados, a pé,  em  gigantescas fileiras, andam  quilômetros e quilômetros para chegarem a alguma fronteira  de um país que lhes possa estender a mão humanitária. Essa criaturas  que perderam  tudo parecem  sair de um documentário sobre   os horrores do Holocausto e dos destroços causados pela  duas  grandes guerras.

     Volto ao  Brasil, forço a memória e vejo  a barafunda em que  nos meteram   os donos atuais  do país. com mentiras,   falácias, simulacros, maquiagens,   dinheirama  roubada dos cofres  públicos  para fins de campanhas  de eleitorado  comprado  e vendilhão de suas (in)consciências aviltadas, propinas  pagas a parlamentares de vários  partidos (desmoralizando  a figura dos políticos, cuja cotação  está a zero na consciência de grande parte dos eleitores), Operação  Lava Jato,   Escândalo do Petrolão,   denúncias quase diárias  mostradas nos canais de TVs,  enlameando os últimos  resquícios de alguma moralidade  no Congresso  Nacional, tudo, enfim,   sob a proteção da impunidade crônica    e do  cinismo  deslavado  de parte a parte da politicagem,  cujas garras horripilantes, tentaculares    se espalham país adentro  em níveis  de governos   estaduais e municiais.

       Perdeu-se o rumo da moralidade  política,   dos ideais  democráticos,  da vontade  política de  fazer  o bem para a sociedade brasileira, agora dividida ente  prós e contras no cenário atual.

    Ora, se o governo federal  não anda bem, não funciona  com dignidade plena, o resultado não demora   a vir à tona:  quebradeira das finanças (A revista The Economist chamou, na primeira  capa, “A queda de Dilma Rousseff” Nem e preciso  ler-se a matéria  a fim de que  nos informemos sobre  todos os  percalços e tropelias  causados  pela  governança da presidente  Dilma),  colapso da saúde, educação fundamental   e média deteriorada, violência com impunidade  jamais  vista na história  brasileira  contemporânea,  onde bandidos  competem  em  armamentos com  as nossas forças  policiais, matam inocentes nas favelas  e morros,  assassinam  estudantes  por causa de um celular,  explodem  caixas eletrônicos de bancos privados e   públicos.   Esse fatos  escabrosos  não acontecem não apenas em São Paulo e Rio de Janeiro, mas se ramificam   pelo país inteiro.

     Não se pode compreender como  um país nestas condições desfavoráveis  vai sediar as Olimpíadas de 2016. Não seria este  o momento de sediar  um evento dessa magnitude com um país  visto de ponta  cabeça. Fomos imprevidentes nesse sentido, sobretudo  porque a situação  que  o Brasil atravessa,  nos campos social,  político e financeiro e institucional, é a pior  possível.  Só resta ao governo federal   tomar  decisões que  venham   reduzir  os prejuízos  espelhados na imagem do país no exterior. É tempo ainda de  reparar  grandes  erros e ações  tomadas  pelo governo federal   que redundaram  nessa  vexatória  situação de desarmonia  e hesitações  nos três poderes,  diante de dois fatos  que precisam  de  ser  resolvidos:  a normalidade  do Congresso Nacional e a questão do impeachment  da presidente  Dilma Rousseff.

     Da minha  parte,  somente  quero  desejar veementemente para 2016  um ano   sem tantas  aflições, sem  tanta violência (as mães de filhos  assassinados por  menores delinquentes ou  jovens adultos clamam aos quatro cantos da Nação  por justiça, justiça, justiça!). Deus proteja a nossa Nação!

 

 

Postado por Cunha e Silva Filho às 05:57 

2 comentários:

José Pedro Araújodezembro 31, 2015

Prezado amigo,
Tivesse eu a competência necessária, gostaria que o presente texto viesse a lume com a minha assinatura. Irretocável em todo o seu conteúdo, acrescento apenas que fico a imaginar o que nos reserva o futuro. 2015 já acabou desde muito tempo, tempo este solapado pelos desmandos desses loucos que se apropriaram da nação (do mundo?) e a transformaram num covil de ladrões e assassinos!Estamos sob a égide das sete pragas do Egito! É o que me parece. Ainda nos resta a esperança, contudo. Feliz 2016!

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Cunha e Silva Filhodezembro 31, 2015

Meu caro José Pedro Araújo:

Estamos no final do ano. Dentro de horas seremos 2016. Há muitas sombras que acenam para nós com cara de poucos amigos. No entanto, há também, e felizmente, leitor atilado, escritor e historiador como V. que me deixa menos pesado, mais esperançoso no campo da cumplicidade de visões sobre o Estado Brasileiro.
V. não perde o seu tempo, dedica-o a vigiar os muitos e desastrosos erros e desmandos do governo atual ou de seu antecessor.
Esse é seu papel, notável papel de dedicar seu intelecto a tornar o país melhor, só pelo fato de dedicar-se a pesquisas históricas já estaria fazendo bem ao nosso país. Muito feliz me sinto em ver que o que escrevo tem ressonância em pessoas de sua qualidade intelectual, com sua visão ampla e atenta aos problemas do país.
Isso para mim vale ouro, não o metal em si, mas o ouro metaforizado, expressando valores morais e espirituais, tão escassos na sociedade brasileira e sobretudo entre os nossos governantes.
Desejo-lhe, neste ensejo, um Feliz Ano Novo de 2016, apesar dos pesares.
Com os cumprimentos efusivos do
Cunha e Silva Filho

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