[Whashington Ramos]

     Ela tem 1836 metros de extensão, nasce numa igreja e termina numa ponte. Nasce  a partir da fé de um povo simples e estende-se no rumo leste, lá de onde vem a luz. É como se ela nos dissesse que sempre devemos procurar a clarividência e as pontes. Devemos procurar ser pontes, construir pontes, para unir, para ligar, neste mundo de tanta desunião.

     Nos  primeiros anos da década de 70 do século XX, às cinco da tarde, no passeio central em frente ao Colégio das Irmãs, ela congregava jovens que ali, espontaneamente, se encontravam para conversas e paqueras. O movimento era tão legal, que criaram uma sorveteria – O Sorvetão – na esquina da rua Area Leão. Muitos saíam do Colégio São Francisco de Assis, que funcionava no Convento São Benedito, que fica no primeiro quarteirão, e iam direto para lá. “A gente se encontra na avenida”, “Você vai hoje para a avenida?”, “vamos pra avenida, a turma está toda lá...” Essas e outras frases semelhantes ainda ecoam em minha memória como grata lembrança daquele tempo. Vão continuar ecoando agora nesta crônica também. Aquela juventude que ali se encontrava está quase toda desaparecida. Muitos foram embora de Teresina, como meu amigo João Rocha, e nunca mais deram notícia. Outros foram chamados pela outra dimensão. Poucos ainda moram aqui e ainda valorizam esta avenida, como o escritor Eneas Barros. Há alguns anos, eu, ele e nossas respectivas mulheres fizemos um passeio por ela à noitinha. Fomos da igreja de S. Benedito até o cruzamento com a Miguel Rosa, caminhando lentamente, jogando conversa fora, observando o movimento intenso de carros, motos e pedestres, ouvindo mil ruídos do turbilhão que agita uma grande avenida na hora do rush. Voltamos pelo mesmo percurso e fomos para casa, recarregados da emoção de ter passeado pela Frei Serafim.

     Planejávamos fazer mais passeios como esse, mas aí veio a pandemia e jogou um balde de água gelada em nosso plano. Nada, porém, está perdido. Ela continua lá. Nada a perturba. O sentimento de perenidade está enraizado em seus oitizeiros, em seu calçamento recoberto de asfalto, em suas calçadas, em seu passeio central, em seus casarões, em seus postes de iluminação, em seu comércio, no constante vaivém do tráfego e no amor daqueles que a fotografam e admiram e dela fazem um tema para canções, como a música do Vavá Ribeiro, para crônicas, poemas, contos, como o Desconfio da cidade, de Alex Sampaio Nunes, e romances, como O turco e o cinzelador, de Eneas Barros. Nessa obra, uma parte da ação se passa na igreja onde tem início nossa Frei Serafim.

     Isso não é pouca coisa para uma avenida.  É muita. Além da utilidade prática diária para milhares de pessoas que a percorrem, ela é também um manancial, uma inspiração para quem a vê além do corre-corre. Que ela volte a unir pessoas como no começo dos anos 70, agora esteticamente. Isso é amor incondicional.