Esq./dir.: Maria Dilma Ponte de Brito, Roberto Cajubá da Costa Britto, Claucio Ciarlini, Diego Mendes Sousa, Valdeci Cavalcante, José Luiz de Carvalho, Ismael Abreu e Maria das Graças de Moraes Souza Nunes.
Esq./dir.: Maria Dilma Ponte de Brito, Roberto Cajubá da Costa Britto, Claucio Ciarlini, Diego Mendes Sousa, Valdeci Cavalcante, José Luiz de Carvalho, Ismael Abreu e Maria das Graças de Moraes Souza Nunes.

Não sei a hora, mas sei que há a hora,

Demore-a Deus, chame-lhe a alma embora

Mistério.

 

Surges ao sol em mim, e a névoa finda:

A mesma, e trazes o pendão ainda (...)

 

Ah, quanto mais ao povo a alma falta,

Mais a minha alma atlântica se exalta

E entorna (...)

 

Trecho do poema “A última nau”, em Mensagem, de Fernando Pessoa

 

 

Belas damas e nobres cavalheiros,

 

senhoras e senhores,

 

O poema “A última nau”, de Fernando Pessoa, extraído do livro “Mensagem”, publicado em 1934, é onze anos mais jovem que o “Almanaque da Parnaíba”, criado pela inteligência privilegiada de Benedito dos Santos Lima, carinhosamente conhecido, aqui e além-mar, como Bembém.

Neste 2024, o “Almanaque da Parnaíba” faz a sua primeira passagem secular! São cem anos! São cem vivas à inteligência!

E o passado se derrama por ser o “Almanack da Parnahyba” a referência máxima da identidade do povo peagabê.

Inventário da história, da sociologia local, da literatura (sobretudo da poesia), da economia, do comércio, da política, da geografia nortista, das circunstâncias piauienses, dos retratos regionais, dos fatos, da cultura, de toda a sorte de utilidades que tornaram de maneira permanente, geométrica e crescente, o “Almanack da Parnahyba”, nesse repositório identitário inigualável em seu gênero.

Com as primeiras dezoito edições do Almanack da Parnahyba, publicadas anualmente de 1924 a 1941, Benedito dos Santos Lima virou uma personagem emblemática, amada e admirada, por sua sensibilidade, sua perspicácia, sua tenacidade e sua rica e privilegiada visão de mundo.

Bembém se imortalizou na literatura, inclusive, sendo figura de proa, nas páginas dos nossos melhores escritores, como Assis Brasil, Raimundo de Souza Lima e Benjamim Santos.

Hoje é nome de rua, nome de escola, nome de videoteca, nome de uma Geração que batizou um grupo de literatas do passado PHB; patrono na Academia Parnaibana de Letras, patrono na Academia Parnaibana de Direito e patrono no Instituto Histórico, Geográfico e Geneológico de Parnaíba (IHGGP).

Benedito dos Santos Lima soube valorizar e reconhecer, em primeira hora, a relevância dos seus colaboradores: R. Petit, Alarico da Cunha, Berilo Neves, Humberto de Campos, Jonas da Silva, Cazuza Porto, Jesus Martins, José Adonias, Lívio Castelo Branco, Benú da Cunha, Francisco Ayres, Benedito de Moraes Freire – o Bibi Freire (tio do Acadêmico Manuel Domingos Neto, cunhado de Ranulpho Torres Raposo, e autor da belíssima arte em bico de pena que ilustra a capa do primeiro “Almanack da Parnahyba”, de 1923, bem como adorna a capa só agora revelada da edição número 75 do “Almanaque da Parnaíba”), dentre outros nomes de poetas, de contistas, de cronistas e de ilustradores culturais eternizados na memória da nossa gente.

Quis o destino que eu estivesse nesta tribuna, neste dia solene, para testemunhar a celebração de um século de existência do “Almanack da Parnahyba” e festejar o reconhecimento de uma parnaibana notável, Sólima Genuina dos Santos, a exemplo do seu genitor, Benedito dos Santos Lima, fez extraordinário trabalho de valorização cultural para o seu tempo.

Quero aqui destacar, que foi pelo empenho de Sólima Genuina dos Santos, que a Biblioteca Nacional, com sede no Rio de Janeiro, detém uma coleção completa do “Almanack da Parnahyba”, através de uma doação empreendida por ela e por seu irmão Orfila Lima dos Santos. Essa Coleção atualmente é o principal veículo para a pesquisa histórica do “Almanaque da Parnaíba”.

Sólima Genuina dos Santos também conservou o máximo de peças e de documentos referentes ao patrimônio memorial de Benedito dos Santos Lima, muitos deles hoje doados aos acervos do SESC Caixeiral e do Instituto Histórico, Geográfico e Geneológico de Parnaíba.

Tenho certeza, Presidente José Luiz de Carvalho, que Seu Bembém e Dona Neusa, pintora e bandolinista, agradeceriam à Academia Parnaibana de Letras por tão distinto ato de consagração.

Benedito dos Santos Lima morreu em 21 de agosto de 1958, quando Sólima Genuina, a querida Sol para os mais íntimos, era adolescente. Ela continuou a viver com a sua mãe Neusa por toda a vida. Menina, depois do almoço, Sólima fazia cafuné no seu Bembém para que ele adormecesse.

Sólima Genuina dos Santos foi a única, dos onze filhos de Benedito dos Santos Lima, que estudou em escola pública, no Grupo Escolar Miranda Osório, no curso primário, para ser aluna da sua irmã, a professora Neusália, mãe do historiador e escritor Diderot Mavignier.

Desde garotinha, Sólima Genuina dos Santos frequentou os bailes do Casino 24 de Janeiro, onde dançava bolero muito bem... Toda essa digressão (toda essa divagação devocional), querida Sólima, nossa distinta jornalista e escritora, é para dizer o quanto você é ímpar e especial...

 

Belas damas e nobres cavalheiros,

 

Os Deuses vendem quando dão.

(...)

Ai dos felizes, porque são

Só o que passa!

 

Baste a quem baste o que lhe basta

O bastante de lhe bastar!

 

A vida é breve, a alma é vasta:

Ter é tardar.

 

Trecho do poema “O das quinas”, em Mensagem, de Fernando Pessoa

 A vida é breve, a alma é vasta: Ter é tardar. Assim assinala Fernando Pessoa sobre a precariedade da nossa existência.

A presença do “Almanack da Parnahyba”, edificado no passado, persistiu possuído de boas intenções pelo desprendimento de outras extraordinárias personalidades, como Ranulpho Torres Raposo, que fez imprimir 40 edições do “Almanaque da Parnaíba”; Manuel Domingos Neto, duas edições; Lauro Andrade Correia, seis edições; Iweltman Mendes, uma edição; Antônio de Pádua Ribeiro dos Santos, três edições; e José Luiz de Carvalho, cinco edições; totalizando 75 volumes de uma riqueza literária do povo parnaibano.

Sob a curadoria da Academia Parnaibana de Letras, que comemora até julho de 2024, os seus 40 anos de fundação, foram editados 15 volumes do “Almanaque da Parnaíba”, sendo que as suas cinco últimas edições, já como Revista da Academia Parnaibana de Letras, contaram com o apoio financeiro do Acadêmico Valdeci Cavalcante. Financiamento cultural que permite a iluminação festiva de uma noite histórica e galante como esta que agora presenciamos.

Ao Valdeci Cavalcante, os agradecimentos por sua alma vasta, pois ter é tardar. É preservar o legado e a consciência da permanência.

A Academia Parnaibana de Letras entrega hoje aos parnaibanos um “Almanaque da Parnaíba” diferente de todos os outros! Desde as suas cores de capa, que disciplinam paixão e poder, o vermelho, uma cor quente como o sol peagabê, aliada ao dourado que intensifica requinte, prestígio, prosperidade e luxo.

No seu interior, o “Almanaque da Parnaíba” está ilustrado com as propagandas contidas na edição de 1923, com o objetivo claro de retroceder no tempo e reviver uma época, “os anos loucos”...

Na carta de iluminações dos Acadêmicos da Academia Parnaibana de Letras, colaborações preciosas de Maria Christina de Moraes Souza Oliveira, Raul Wagner dos Reis Velloso, Reginaldo Santos Furtado, Roberto Cajubá da Costa Britto, Francisco Valdeci de Sousa Cavalcante, dentre outras cintilações, como as homenagens prestadas aos Acadêmicos Alcenor Candeira Filho, José Pinheiro de Carvalho, Magalhães da Costa e Virgínia Lombardi.

A septuagésima quinta edição contém também uma carta de colaboradores composta por Joseli Magalhães, Florice Raposo Feitosa, João Bosco dos Santos, José Itamar Abreu Costa, Luciano dos Santos Rezende, Francisco Carlos Pontes, dentre outros.

Destaco o retorno da grafia original do Almanack da Parnahyba inaugural; a palavra Almanaque com C e K no final; e a palavra Parnahyba com H e Y, pois assim eram escritas essas duas palavras, antes de 1930.

 

Senhoras e senhores,

 

Neste momento, gostaria que nossa distinta plateia soerguesse (elevasse) o exemplar do “Almanaque da Parnaíba” para o registro de uma fotografia oficial de lançamento da septuagésima quinta edição do glorioso livro genuinamente parnaibano!

Convido o artista Jairo Nunes Leocádio para que proceda com a fotografia.

Gostaria ainda que todos aqui presentes repetissem comigo um mantra que guardo no peito, por ser, desde menino, leitor voraz do “Almanaque da Parnaíba”.

Todos juntos e em voz alta:

 

ALMANACK DA PARNAHYBA:

AQUELE QUE A PARNAÍBA SEMPRE ESPERA!

 

 

Deus quer e, o homem sonha, a obra nasce.

Deus quis que a terra fosse toda uma,

Que o mar unisse, já não separasse.

 

 

Sagrou-te, e foste desvendando a espuma,

E a orla branca foi de ilha em continente,

Clareou, correndo, até ao fim do mundo,

E viu-se a terra inteira, de repente,

Surgir, redonda, do azul profundo.

 

Quem te sagrou criou-te português (parnaibano).

Do mar e nós em ti nos deu sinal.

Cumpriu-se o Mar, e o Império se desfez.

Senhor, falta cumprir-se Portugal (Parnaíba)!

 

       Não preciso mais nada dizer... Sim, o poema é do Nandinho.

 

 

Parnaíba, Norte do Brasil, 02 de maio de 2024.

 

 

Muito obrigado!

 

Discurso proferido por Diego Mendes Sousa em solenidade de lançamento da 75° Edição do “Almanack da Parnahyba”, em comemoração aos 100 anos da sua criação por Benedito dos Santos Lima e aos 40 anos da fundação da Academia Parnaibana de Letras.