GISELDA MEDEIROS
GISELDA MEDEIROS

A VIGOROSA POESIA DE DIEGO MENDES SOUSA

Giselda Medeiros

 

O grande poeta do Modernismo Brasileiro, Vinicius de Moraes, sempre destacava que usava as lágrimas dos seus dias para obter o cimento de sua poesia.

Consideramos muito pertinente essa afirmativa à proporção que vamos lendo os poemas de Diego Mendes Sousa, jovem poeta parnaibano, autor de 16 livros publicados, todos muito bem aceitos pela moderna crítica contemporânea.

Nessa sua mais recente obra, A Borda do Mar de Riatla (2025), encontramos, também, semelhante cuidado do autor com o seu fazer poético, no aproveitamento das dores existenciais para a construção de sua poética. Assim, nosso jovem poeta parnaibano serve-se dos percalços do seu dia a dia para dar forma, luz e cor aos poemas que vai criando, a partir das lágrimas que o destino lhe traz. Não renega o sofrimento, as dores, a incompreensão, os traumas, nem mesmo a morte, pelo contrário, aceita-os a tudo e a todos para, cantando, mexer e remexer essa argamassa que a vida, a saudade, a dor e o desespero lhe têm concedido, para transformá-los em versos fortes, às vezes líricos (E te deixas ir / secreto e sem ruído / entre laranjeiras / e sabiás / na sonora tarde / que ressuscita / sentimentos.

Outras vezes, o poeta chora ante a relembrança de um tempo passado: Não aprendi a enfunar / velas, nem a velejá-las, / meus barcos são retesados / e enevoados de pedra. O estarrecimento do poeta ante o incomensurável descobrimento, também, é destaque em sua poética: Era o fim / de mais uma tarde / de nítido céu azul, / quando percebi / que éramos nós que / passávamos e / não o tempo.

Seu canto telúrico é belo e sofrido, saudoso e pleno de Poesia: Parnaíba, leito do menino perdido / na beira do cais, / marujo embarcado no mar e no sol / da praia da Pedra do Sal, / muito além das outras paragens revividas / e sentidas nos olhos sinceros / da inocência.

 E, para concluir esta despretensiosa apreciação, transcrevemos “Mau Tempo”, poema com que o autor fecha esse seu memorável livro:

 

Era o fim

de mais uma tarde

de nítido céu azul,

quando percebi

que éramos nós que

passávamos e

não o tempo.

 

Todas as noites

permaneciam,

menos nós

que involuntariamente

passávamos.

 

As folhas caem.

As casas se arruínam.

Os séculos decaem.

 

Os caminhos devastados

no silêncio desesperador

das estrelas...

 

Abrimos os abismos

dentro de nós mesmos

de repente

caímos.

 

Parabéns, Diego Mendes Sousa! Sua Poesia é alimento e antídoto para nossa alma!

 

 

Fortaleza, 28 de junho de 2025.

 

Ensaio de Giselda Medeiros, escritora e membro da Academia Cearense de Letras.