A Terra do Gado

Na edição de 14 de janeiro de 2008, o escritor Manoel Hygino escreveu artigo no jornal Hoje em Dia, de Minas Gerais, sobre Terra do Gado - a conquista da capitania do Piauí na pata do boi. Veja a apeciação do crítico:

A carne que vinha do Nordeste

 

A leitura de um livro recentemente editado em Brasília pela Thesaurus dá mostra de como os brasileiros conhecem pouco a pátria. Em “Terra do gado - A conquista da capitania do Piauí na pata do boi”, esclarece e elucida fatos, que nas montanhas do Sudeste ou na orla marítima se ignora.
Cumpre informar que não se trata de um ensaio bairrista, digamos assim, sobre a história e os homens daquele estado. O prefaciador, Gilberto de Abreu Sodré Carvalho, proclama que o trabalho de Afonso Ligório de Carvalho “é uma obra que veio para ficar e servir de referência para a construção definitiva da história do Piauí” e, para encaixá-la no contexto dos demais estados e da própria nação, digo-o eu.
Usando bons pesquisadores da região, inclusive os estrangeiros que a estudaram, Afonso Ligório desenha um panorama objetivo, conciso e claro, sobre os vínculos que nasceram e cresceram entre o Piauí, as demais capitanias e, depois, as unidades da Federação.
Quem já soube da importância da Casa da Torre, tão fundamente pesquisada pelo engenheiro mineiro Simeão Ribeiro Pires, em dois livros memoráveis, fica sabendo agora que a poderosa grei foi a responsável pela introdução do gado no Brasil, respondendo ainda pela expansão dos seus currais ao Sertão de Dentro.
A Casa da Torre surgiu com a comitiva do primeiro governador-geral, Tomé de Souza, em 1549, através de Garcia d’Ávila, tornado primeiro fazendeiro do Brasil, e instalado na Bahia. Ali, construiu a famosa Casa da Torre, um morgado, espécie de fortaleza para domínio e manutenção de muitas terras e currais, onde vivia com a família.
A definição da escolha pelo gado é explicitada. Há economia de mão-de-obra, e o padre Miguel de Carvalho, no seu relatório sobre as primeiras fazendas e seus moradores, observa: “Em geral, três a quatro pessoas por propriedade”, um pouco mais se tanto, eram suficientes para tocar o negócio.
Cana e engenho davam muito trabalho, eram muito caros e exigiam cuidados humanos especiais, técnicos e ajuda da natureza. A casa das fornalhas, pelo calor desprendido, se tornava um “inferno”, para o qual se encaminhavam os escravos boubentos.
Sobretudo depois da frustração holandesa, quando Pernambuco enfrentou ingentes dificuldades para restauração do que se destruíra, os descendentes de Garcia d’Ávila procuraram ampliar seus domínios utilizando portugueses, paulistas, baianos e pernambucanos. Não foram os únicos, porque os jesuítas também tiveram fazendas e gado, o mesmo ocorrendo com Mafrense, que lhes doara glebas valiosas.
A importância da cultura do algodão e do fumo é examinada, mas o foco de Ligório é o gado, sob cujas patas o território foi ocupado e preservado. A idéia de Duarte Coelho de plantar cana e fabricar açúcar satisfazia Lisboa, pela grande aceitação do produto na Europa. Mas o projeto de descobrir minas de ouro ficou logo abandonado.
Aí entra Minas Gerais. Afonso Ligório situa o problema: “Outro fator importante que robusteceu o mercado de gado na capitania recém-criada (a do Piauí) foi a descoberta do ouro em Minas Gerais, quando, a 1º de março de 1695, o governador geral do Brasil, Sebastião de Castro Caldas, notificou à Corte a farta ocorrência desse metal, como informa Maria Beatriz Nizza da Silva”.
Da Europa e das diversas regiões brasileiras chegavam levas e mais levas de aventureiros, desejosos de enricar-se rapidamente. Nasceram povoados, vilas e cidades, que demandavam alimentação a curto prazo. Dinheiro não faltava. Os criadores e agricultores mudaram de ramo: voltaram-se para a busca do raro metal.
Também Eduardo Frieiro, como outros bons autores, trata do tema. Assim, os homens das Minas tiveram de recorrer ao gado que vinha de outras regiões, inclusive o Piauí, depois de transporem os currais baianos ao longo do São Francisco. Uma longa e exaustiva viagem pelo sertão quente.
Leitura excelente a que nos propicia o novo livro de Afonso Ligório!

*Jornalista e escritor

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Terra do Gado – A conquista da capitania do Piauí na pata do boi
Afonso Ligório Pires de Carvalho

Neste livro o autor registra e interpreta aspectos históricos, sociais e econômicos da origem do Piauí, as primeiras incursões, desbravamento e colonização do seu território. A formação dos primeiros currais, a instituição de um patriarcado rural assentado na criação extensiva e numa agricultura apenas de subsistência. Parte das terras do Piauí já vinha sendo visitada desde o século XVI, muito antes da fundação, no século XVII, das primeiras fazendas nos vales dos rios Gurguéia, Piauí e Canindé. Fala também que o atual Piauí era um território que abrigava grupos tribais de diferentes etnias, porém poucas informações foram guardadas dessas culturas que desapareceram de modo violento na ocupação do território pelos europeus, quase sem deixar vestígio dos seus usos e costumes. Pesquisas recentes na Serra da Capivara concluíram que os primitivos habitantes do Piauí foram os mais antigos moradores das Américas. Explica porque o Piauí optou pela criação de gado em vez da agricultura e o papel da Casa da Torre de Garcia d`Ávila na imposição da pecuária. O latifúndio dos jesuítas que a Coroa tomou. A prosperidade e a grandeza das charqueadas que impressionaram o inglês Henry Koster. A estagnação econômica e o extrativismo. O livro assinala ainda que o Piauí só em 1823 conseguiu independência, depois de uma luta prolongada, uma cruenta guerra contra o exército português comandado pelo major (depois brigadeiro) Fidié. É um trabalho sério de pesquisa inclusive genealógica, que dá notícias também sobre algumas das primeiras famílias chegadas de Portugal e que no Piauí fincaram raízes, responsáveis em parte pela futura sociedade. O editor ISBN 9788570626684 224 páginas, 1ª edição 2007


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