ALBERTO CESAR ARAUJO
ALBERTO CESAR ARAUJO

A PANTERA - ROGEL SAMUEL

Não, não há nada; não sei mesmo há quanto tempo estou aqui, perdi a consciência do tempo, da vida, do espaço, e nessa rede em que vivo, nessa letargia em que vivo, nessa calma apática e tristeza, no meio dessas imensas árvores, no entrecortar dos gritos de estranhos pássaros silvestres que silvam fortemente em minha frente o lago verde se abre, se estende, se alarga, sinistro, sem nome, imóvel, enorme, trágico, no ar, naquele silêncio morno, naquele calor úmido, naquele mormaço tardio, mortal, à espera da morte, a espera da minha morte.

Na minha frente vejo a Jara, silenciosa, misteriosa, amante, possível inimiga. Não sei por que os guerreiros indígenas ordenaram que ficasse aqui. 

Depois voltaram e ela conversou com eles, que se foram, desapareceram sem olhar para mim. Eu vejo Jara na minha frente, pescando com uma lança. Por que está aqui? Talvez para alertar-me da aproximação do exército inimigo. Mas para que aqueles índios? E eu já não penso, espero a morte, estou fraco. Será que virão os inimigos que espero? Talvez aqueles mesmos índios estejam planejando matar-me. Talvez sejam eles o inimigo. Mas minha falta de reação, a apatia, a indiferença, Jara permanece em paz. E calma. Nem fala comigo.