[Bráulio Tavares]

 



Num artigo no blog do Discover Magazine (

http://bit.ly/yUof3w

) Razib Khan aborda um aspecto crucial da discussão sobre cópias, reproduções e pirateamento na Internet. Há muitos aspectos envolvidos, e o dos direitos autorais é um dos mais importantes (pelo menos para mim, que preciso deles para viver). Mas existe um outro ponto de vista tão importante quanto o do autor ou do editor, e é o da civilização que está produzindo e reproduzindo esses textos. Do ponto de vista da civilização, quanto mais cópias houver de textos importantes maior a chance de que esses textos sobrevivam a catástrofes (guerras, desastres, etc.) ou colapsos tecnológicos que inviabilizem milhões de obras que hoje supomos preservadas para sempre.



Diz ele: “Por tudo que li, considero que toda a nossa destilação moderna do cânone da Antiguidade foi quase totalmente filtrada através de três grandes esforços coletivos de cópia de obras clássicas, ocorridos entre o fim da Antiguidade e o início da Idade Média: 1) os esforços dos árabes durante os primeiros anos dos califas Abássidas, no século 9; 2) o Renascimento Carolíngio do fim do século 8 e começo do século 9; 3) e um surto de atividade quando Bizâncio se recuperou dos ataques árabes nos séculos 9 e 10, principalmente sob o patronato de Constantino VII. Esses surtos se complementaram uns aos outros. A transmissão islâmica de grandes obras filosóficas é bem conhecida, mas havia pouco interesse, entre eles, em preservar o ‘corpus’ humanístico grego, tal como as peças teatrais; neste caso, temos que agradecer aos bizantinos. Disto, combinado com a preservação carolíngia de inúmeras obras latinas, emerge hoje para nós uma imagem razoável da Antiguidade, por causa desses esforços independentes entre si”.



O artigo vai mais longe e mais fundo, mas o trecho acima me basta. Todos nós sabemos o quanto se perdeu da cultura antiga, desde a maioria do teatro grego (muito pouco foi preservado), até os numerosos incêndios criminosos ou acidentais de grandes bibliotecas. A multiplicação das cópias, numerosas, espalhadas por várias nações, salvou para nós um número incalculável de obras científicas, literárias e filosóficas cujos originais sumiram. Pensamos com arrogância que temos uma civilização invulnerável, mas ela está tão dependente do sistema financeiro e de tecnologias específicas que não é pessimismo imaginar que um colapso social coletivo pode ocorrer em algum momento do futuro próximo. Seria irônico que as grandes obras de nossa cultura se perdessem e deixássemos para o mundo futuro apenas o que temos de mais popularesco e descartável, cujas cópias se multiplicam sem parar.