[Washington Ramos]                          

     A mais famosa festa literária do Brasil já está ocorrendo, mas apenas virtualmente no YouTube e em outros sítios eletrônicos. É a mais célebre, porém não é a melhor. O tema é Literatura e Plantas. Apreciei alguns vídeos sobre esse evento e li um pouco a respeito desse importante encontro anual dedicado ao mundo literário.

     O tema é de grande relevância e muito atual. Quando o vi, me lembrei do cajueiro, uma das árvores mais emblemáticas do Brasil. Em seguida, lembrei-me de quatro textos antológicos sobre essa árvore. São eles O Cajueiro, de Humberto de Campos, presente em suas Memórias e em muitas antologias escolares; Cajueiro Pequenino, de Juvenal Galeno, muito declamado e também presente em antologias escolares; O Cajueiro e Quem sabe Deus está ouvindo, esses dois últimos são da autoria de Rubem Braga, que é o mais famoso cronista brasileiro.

     Não tenho conhecimento de que na FLIP haja alguma referência a qualquer um desses quatro textos e seus respectivos autores. É duro ter que constatar isso. Ou seja, é ruim, é triste perceber que nem sempre se valorizam devidamente autores do passado. Nada contra autores do presente como Itamar Vieira Júnior, autor do premiado romance Torto Arado, e Conceição Evaristo, autora de Ponciá Vicêncio, que são muito badalados e estão nesta Feira Literária Internacional de Parati. É claro também que esse evento não deve nem pode abarcar tudo que já se escreveu literariamente sobre plantas no Brasil. Não, não se trata disso. Trata-se de que pelo menos dois desses textos, os mais antológicos, e seus respectivos autores poderiam estar presentes nesse encontro literário, mesmo que fosse apenas como uma simples menção.

     As duas crônicas de Rubem Braga supracitadas não figuram em antologias, mas não são menos primorosas do que os textos de Humberto de Campos e Juvenal Galeno. Se fossem mencionadas na FLIP deste ano, já seria algo importante, uma boa lembrança de um autor que já foi tão famoso em nosso país.

     Com esse esquecimento sobre textos e autores tão importantes do passado e um passado nem tão distante assim, pois Rubem Braga faleceu em 1990, fica claro que a literatura, muitas vezes, não é muito diferente de outras atividades humanas que valorizam muito o presente e desprezam o passado.

     É uma pena! Mas, mesmo assim, vida longa à FLIP!