A palavra "futuro", afirmava Octavio Paz, já se tornou antiquada, e podemos acrescentar que a palavra "criatividade" tornou-se para nós um termo trivial e vazio.

No entanto, os escritores conferem novos sentidos às palavras de sempre. É o caso do livro Inteligência criativa, do pensador espanhol Alfonso López Quintás. Recentemente publicada pela Paulinas, trata-se de uma obra que pretende recriar a criatividade. Mais do que um livro, apresenta-se como roteiro pedagógico para estudo individual ou trabalho em grupo, em busca da arte de pensar com rigor.

Com rigor, sem rigorismos. Sabendo-se que este modo de pensar exigente leva a um modo de viver criativo, baseado na descoberta de valores que nos valorizam como pessoas.

A inteligência criativa recria a inteligência, transforma objetos inertes em âmbitos vivos, lugares-comuns em metáforas vibrantes, meros acontecimentos em fatos históricos, aglomeração humana manipulável em povo capaz de iniciativas, dilemas em novas interações.

A obra de López Quintás ainda é insuficientemente conhecida no Brasil, mas muito bem fará aos nossos pedagogos quando o for. Suas preocupações vão ao encontro de um problema que muitas teses e dissertações identificam, mas para o qual não oferecem soluções. O problema básico do pensar, presente nas dificuldades que enfrentamos ao escrever, ao estudar, ao pesquisar e até com relação ao comportamento moral.

Existe hoje, camuflada, uma ditadura noética contra a qual não sabemos lutar. Insidiosamente, esta ditadura se instalou dentro de nós. Trata-se de uma possessão. Somos nós mesmos os nossos ditadores.

Praticamos a censura contra nossa imaginação e nos contentamos com as imagens e mitologias impostas.

Colaboramos com a manipulação, obedecendo às ordens que recebemos de maneira clara ou subliminar.

Torturamo-nos com os choques elétricos da pressa, correndo para lá e para cá sem saber para quê e por quê.

Vivemos com medo de perder o emprego, de ser reprovados por mil instâncias, de não ser aceitos pelos detentores do micro-poder.

E tudo porque renunciamos a pensar com rigor. Preferimos ser pensados. Aceitamos que planejem nossos planos, definam nossas finalidades. Ser criativo é, para muitos, não criar problemas...

Uma professora escreveu em sua monografia: "A educação tem a função de trazer à luz do conhecimento o indivíduo que a recebe". Eis uma epígrafe obscura que expressa, adequadamente, a confusão em que nos encontramos.