POEMA "A DINÂMICA DA MORTE", DE DIEGO MENDES SOUSA - ENSAIO DE ANA MARIA BERNARDELLI
Por Diego Mendes Sousa Em: 08/11/2025, às 21H45

Poema de "O escrevente do chão" (Editora Litteralux, 2025), de Diego Mendes Sousa, no Correio Braziliense de hoje (8 de novembro de 2025), na coluna "Tantas Palavras", de José Carlos Vieira. Caderno Diversão & Arte.
A DINÂMICA DA MORTE
ENSAIO DE ANA MARIA BERNARDELLI
Os “girassóis rodopiando na roleta do tempo” são a imagem da continuidade cósmica. Enquanto o homem se percebe finito, o girassol — símbolo solar, ciclo, retorno — gira indiferente ao drama humano. A natureza gira, o homem para. O movimento e a imobilidade são polos de um mesmo eixo existencial: a vida que segue e o ser que sente.
A “roleta do tempo” introduz a metáfora do acaso, do destino que não se controla — quase camusiano em sua ironia. E, diante dela, o homem “imóvel” é o contraponto: não é apenas a inércia física, mas uma paralisia ontológica, uma lucidez que o impede de rodopiar junto à natureza. É o sujeito moderno diante da eternidade dos ciclos, despojado de transcendência.
A “indiferença dos ciclos” — talvez o verso mais denso do poema — ressoa uma crítica silenciosa à condição humana: o mundo gira, flores nascem e morrem, e a morte, essa dinâmica, não se comove. A morte não é o fim; é o movimento que não cessa. O homem, por sua vez, é o único que para para pensar nela.
Há em Diego Mendes Sousa uma contenção verbal que intensifica o silêncio entre os versos — um lirismo sem alarde, onde a metáfora se basta. O poema é breve como um epitáfio e intenso como um pensamento nietzschiano sobre o eterno retorno.
Assim, “A Dinâmica da Morte” não fala da morte, mas da vida que continua sem o homem — e do homem que, consciente disso, permanece imóvel, contemplando o giro indiferente dos girassóis.
Uma leitura breve, mas sensibilizada.
Ensaio de Ana Maria Bernardelli é ensaísta e crítica da literatura, formada em Língua e Literatura Francesa pela Université de Nancy, na França.

ANA MARIA BERNARDELLI

