Por Luiz Filho de Oliveira

 

É engraçado como algumas pessoas que me-conhecem se-espantam quando digo a elas que componho músicas. Ué, e você nem toca um instrumento musical! É verdade, mas faço poesia, ou melhor, trabalho com o ritmo. E mais: na minha memória musical, estão tantas músicas que ouvi ao longo desses 45 anos de vida. Sambas, como aquele "Tristeza pé no chão", de Armando "Mamão" Fernandes, cantado pela poderosa voz de Clara, de Ana e de quem mais cantar (não é, Joice?). Nossa, esse samba é ginga pura misturada ao canto melodioso dessa voz.
 
É nesse e em outros sambas de raiz que me concentro quando faço os arranjos de meus sambas – sim, eu componho sambas! O plural, aqui, é somente força pro hábito, pois ainda quero compor mais.  E, quando estou construindo a música, imagino perfeitamente os sons dos instrumentos que eu quero explorar nela. Exatamente como ouvi da própria boca da cantora e instrumentista Joice, falando acerca dos arranjos do disco Feminina: “Já está tudo aqui, dentro da minha cabeça”.
 
Poissim, como já havia escrito numa pequena nota no Twitter, aconteceu, por esses dias – isturdiinha! –, de eu compor uma música a partir de um poema do poeta piauiense Da Costa e Silva: o seu famosíssimo soneto "Saudade". O curioso é que, de um poema tão lírico e tão melódico, não saiu uma canção (ou cantiga, para não sermos injustos com a tradição medieval!), mas sim um samba, um velho e cadenciado samba. Africanidade brasileira, esse gênero musical é uma perfeita oferenda quando me-lembro de que Alberto da Costa e Silva, filho do Poeta do Velho Monge, é um africanista de primeira. Por Nanã, Ogum, Xangô, Obá!
 
Apois, eu ando devagar mesmo porque tenho muita pressa. E, se ainda hoje não pude reunir umas tantas composições musicais em disco, é porque não tive a pressa de ver e ouvir os músicos que pudessem acreditar nessa produção musical. Lorota boa, essa! Não tenho pressa, tenho preguiça, não tenho amigos músicos, nem dinheiro público. Mas a música, ah, essa, sim, tem motivos pra permanecer viva em mim. Camões é blues e rock’n’roll, enfim. Tenho, aqui, motivos pra cantar uma cantiga de D. Dinis ou um vilancete do conde do Vimioso. Por que não um samba do Senhora, partem tam tristes, do Joan Roiz de Castel Branco? Sim. Um samba. Foi esse ritmo que pariram os versos do soneto do amarantino. “Saudade, olhar de minha mãe rezando/ E o pranto lento deslizando em fio”.

Porisso, o oximoro vidal: poesia experimentalista; música tradicionalíssima. A música é mesmo a tendência para o paralelismo, para a repetição. Repito, perito: sou pela tradição do samba nessa composição. Não sou outro som que não seja de uma cuíca, de um tamborim, de uma viola, um cavaquinho, e, ao longe, um trombone faz jazer a alma em berço extático, explêndido. Vamos ao samba. Mão no couro!