[Galeno Amorim]

Uma vida toda vivida com paixão, gana de vencer e... livros, muitos deles. O cenário tem como moldura uma infância pobre, desprovida de qualquer perspectiva de futuro. Corta, então, para um conflito épico moderno, ainda hoje tão presente no imaginário popular. Em meio a tantas histórias de superação e glórias, ele acaba virando amigo de intelectuais importantes e torna-se uma espécie de rei do forró na maior cidade nordestina do Brasil.

Quem ouve logo imagina que a saga desse Zé, um brasileiro igualzinho a tantos outros por aí, um dia ainda vai parar no cinema. Afinal, o que não falta na vida desse ex-lavrador de Currais Novos, no interior do Rio Grande do Norte, são boas histórias. Ele saiu de lá para virar doutor na cidade grande. Mas não sem antes ter sido algodoeiro, garimpeiro, marinheiro e, por fim, obter o ofício de livreiro.

Mas até chegar lá, Zé comeu o pão que o diabo amassou.

Decidido a fazer a vida no Sul maravilha, acabou se metendo em muita confusão. Já na revolta famosa dos marinheiros na primeira metade do século passado, acabou cassado e expulso da Marinha do Brasil. Foi ser lavador de carros e viver num estacionamento em São Paulo.

Vizinho da PUC, ativo centro da resistência política contra a ditadura nos anos de chumbo, Zé foi se meter logo com uns intelectuais de esquerda, como o educador Paulo Freire. Quando se deu conta, tinha ficado mais sabido. Prestou vestibular e se tornou aluno da universidade. Como o dinheiro era curto, passou a vender livros para os amigos nos corredores da faculdade.

Daí a abrir a própria livraria foi um pulo. Arrumava, às escondidas, livros censurados pelo regime para os estudantes. Então, passou a editar os próprios livros, alguns de muito sucesso.

Um dia os ladrões entraram para limpar a sua loja. Ele não teve dúvidas: encheu sacolas de livros e deu de presente para que levassem aos filhos. Assim, explicou, com bondade, certamente teriam um futuro mais digno, e longe do crime, como o que ele próprio traçara para si.

Hoje editor e livreiro de sucesso, o Zé dessa história também conhecido como José Xavier Cortez, um ícone do universo dos livros no Brasil resolveu dar um tempo nos negócios. Mas não é que tenha desistido. Só resolveu sair por aí, como um caixeiro-viajante das palavras, pra contar a outras pessoas sobre as poucas e boas que já passou pela vida. Mas como a leitura pode, no fim das contas, fazer a diferença na vida de pessoas simples como ele.

Do alto da sua sabedoria e de um pequeno império de livros, é ele quem pontifica:

- Não importa aonde se pretende chegar. Desde que se tenha um livro nas mãos para servir de base de conhecimento... e um outro na bolsa, que é para ajudar a realizar os sonhos e os projetos de vida!