[Galeno Amorim]

Por Galeno Amorim

Nos corredores do Hospital das Clínicas, no campus da Universidade de São Paulo em Ribeirão Preto, a cena já não causa nenhuma estranheza. De repente, entra alguém de supetão em um dos quartos da ala infantil. Sem qualquer cerimônia, saca um dos tantos livros que traz debaixo dos braços e pronto... Lá vem a história!

Às vezes, pode ser um singelo conto de fadas. Noutras, é uma aventura dessas de tirar o fôlego, que tanto pode ser uma da coleção do bruxinho Harry Potter como simplesmente sair na hora, de dentro da própria imaginação do visitante inesperado. Uns ouvintes se entusiasmam tanto que resolvem pegar, na mesma hora, um dos livros disponíveis (e são mais de 1.000 deles na pequena biblioteca do lugar). E tome mais aventura, sem que fosse preciso arredar o pé dali.

As crianças menores adoram os livros de dobradura. Pelo puro prazer de brincar. Como num passe de mágica, o ambiente hospitalar então se transforma.

Nem os acompanhantes escapam. Nos quartos maiores, a chegada da trupe de contadores simplesmente transforma o ambiente insípido numa divertida roda de histórias. Todo mundo entra na dança: familiares, funcionários e quem aparecer por lá. O sucesso é tamanho que os pequenos pacientes não se cansam de pedir que os contadores voltem outras vezes.

A história, enfim, não pode parar.

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- Ler é contagiante - diagnostica Claudineia Kamei, a assistente social que levou para lá a ideia dos livros para ajudar na cura daqueles pequenos pacientes. Somando os alunos da USP e os voluntários de diferentes profissões, são cerca de 20 os mediadores de leitura que integram a unidade local do Projeto Biblioteca Viva em Hospitais, uma ação que começou em 2002 e não parou mais. Dos bebês aos adolescentes internados, cada um deles é tratado como um leitor especial.

Um leitor que ri, chora e se emociona com as histórias. Às vezes, porque se identifica com algum personagem. Ou simplesmente porque cria um espaço próprio pra brincar e imaginar coisas, tornando aquele ambiente mais humano - algo absolutamente essencial, sobretudo quando se sabe que muitos daqueles passam longas temporadas por lá.

Quem está há mais tempo no hospital, e tem olhos de ver, é que dá o atestado: a magia da literatura tem operado verdadeiros milagres por lá.