Por Luiz Filho de Oliveira
 

Lembra o Bandeira de um Poema tirado de uma notícia de jornal? Apois, que ele leu, de fato, alguma notícia para compor o seu poema, não tenho dúvida. Foi assim que nasceu um poema em mim, em meados da década de 1990, nessa aparições que todo artista tem com a sua arte, ao assistir a uma reportagem da TV Globo a respeito de cólera em um campo de refugiados.

Era acerca da África a reportagem, aliás, era lá que estava o repórter entrevistando um carioca que estava servindo de voluntário para as tropas da ONU, em Ruanda, nos campos de refugiados Quibumba I e Quibamba II.  Ele se-queixava, mesmo “fazendo a sua parte”, de que as autoridades locais – não me-lembro se Ruanda a essa época estava travando uma guerra civil ou coisa desparecida – não estavam comprometidas em resolver os conflitos, mas sim em deixar-se corromper, surripiando a maior parte da ajuda humanitária prestada por outros países. Nada de novo pra nós, os brasileiros, já que, em nosso país, embolsar verba pública é “tradição”: o verdadeiro “jeitinho brasileiro”!

Ou alguém, nesse mesmo espaço (o de ganhar dinheiro com a desgraça dos outros), está esquecendo o que houve com a região serrana do Rio de Janeiro há alguns anos? Públicos agentes corrutos! FDPs! Dizem as mais línguas que até a Fundação Roberto Marinho se-envolveu em desvios de verbas dessas enchentes. Dinheiro sujo, enlameado mesmo! “Isso é uma vergonha!” – repercute o  Casoy, com mais esse caso. E ainda vemos o vídeo...

Poisbem, o carioca da entrevista se-queixava disso, de “fazer a sua parte” enquanto outros estavam sendo desonestos com todo aquele povo sofrido, sofrendo com cólera – a doença, pois a raiva intensa estava desacordada. E, por conta disso, nós também preferiríamos um chopinho, no Leblon, perto da Farmácia Piauí, em frente ao mar, como o-queria o carioca. Ah, um futibolzinho na praia. Futibol de praia; que mané “de areia”! A Globo acaso é dona da língua? “Futebol de areia” me-passa um passe errado, um tijolo! E daí se onde haverá a partida ou a competição não tiver praia? E daí? Queria o carioca um futibolzinho de praia. Apois, queria o carioca o sossego timaiano, porque se-empregar em ajudar o mundo é dever que faz sentir a gente o desprezível do humano, das atitudes não solidárias, egoístas de carteirinha.

Oxalá protejam os que necessitam de ajuda! Ogum os-defenda! Que Nanã os-nane em “berço esplêndido” realmente. Nada desse idealismo de nossas leis (é lindo no papel, mas não têm papel algum!), nada de trair nossos irmãos de dentro de nossas tribos! Nada de subserviência aos senhores das guerras étnicas eteceteras e mais eteceteras...

Vai, poema...

 

onde se-reporta a um fato refugiado em dois campos na África

 

Quibumba um

Quibumba dois

Ruanda... uh!

vala comum

 

sobre a nutrição

de seus protegidos

pesam os esforços

das forças da ONU

 

mas o voluntário

em tom brasileiro

– fala entrevistada

mastigando um samba –

 

tá pedindo arrego

cansado de fome

de vergonha & homens

quer vir pro Leblon

 

bem ali ao lado

da Farmácia Piauí

tomar um chopinho

somente unzinhos

 

com fome de bola

driblando as Áfricas

e as suas cóleras

que tanto assolam

 

mas bem mais cruéis

tantos governantes

nem sequer as-olham

porque não importam

 

e isso que o repórter

diz ali-outrora

não é nada novo

pras fomes no solo

 

sujeitos pras leis

sujeitos do resto

sujeitos a tais pestes

por vias satélites

 

por desvios de verba

incompetências guerras

negras Áfricas falecem

aos sons destes versos